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Archive for 24 de setembro de 2007

A revanche

A revanche dos canhotos
Eles reclamam que o mundo foi feito para os destros, mas recebem salários até 26% mais altos
Por Camilo Vannuchi

O aluno percorre a sala em busca de uma cadeira com o braço do lado esquerdo. Não encontra. A única já foi ocupada por outro canhoto. O aluno segue cabisbaixo para uma cadeira convencional e se contorce para fazer as tarefas. Não pode usar uma caneta muito úmida para não borrar o caderno nem sujar as costas da mão. Tem dificuldade em usar a tesoura por não enxergar o fio de corte e se atrapalha ao manusear o mouse. O aluno fica bravo porque o mundo não foi feito para pessoas como ele. Em latim, esquerdo é sinistro, sinônimo de sombrio e de má índole. Em francês, é gauche, desajeitado. Em italiano, mancino é o mesmo que desonesto. No Brasil, canhoto é um dos nomes do demo, do coisa-ruim, do cramulhão. Tidos como errados, tortos, atrapalhados, os canhotos enfrentaram diferentes formas de preconceito ao longo da história, a ponto de até hoje alguns pais obrigarem os filhos a pegar o lápis com a mão direita. A boa notícia para eles é que os canhotos, segundo estudo recente, costumam ser mais bem remunerados do que os destros. Nunca foi tão prazeroso assinar um cheque com a mão esquerda.

Autores da pesquisa publicada no National Bureau of Economic Research, os economistas americanos Christopher Ruebeck, Joseph Harrington Jr. e Robert Moffitt constataram que os canhotos com passagem pelo ensino superior recebem salários 15% mais altos do que os destros com a mesma escolaridade, enquanto os que concluíram a graduação ganham até 26% mais. A avaliação foi feita a partir de entrevistas anuais com cerca de cinco mil pessoas que tinham entre 14 e 21 anos em 1979. Desde aquela data, o grupo foi acompanhado pela equipe a fim de se comparar a remuneração de cada integrante. Curiosamente, a vantagem dos canhotos não se repete entre os trabalhadores que cursaram apenas até o ensino médio, o que parece indicar que eles têm maior “retorno financeiro” sobre cada ano estudado. A primeira hipótese, portanto, seria atribuir aos canhotos maior capacidade de aprendizado e assimilação de conteúdo, embora os responsáveis pelo estudo não tenham apresentado justificativas para o fenômeno.

Para o professor de neurofisiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Luiz Eugênio de Mello, a constatação pode ser indício da valorização pelo mercado de quesitos como criatividade e sensibilidade. “Enquanto os destros processam a linguagem no hemisfério esquerdo do cérebro, região que comanda a razão e a lógica, os canhotos são controlados pelo hemisfério direito, espaço das emoções e da intuição”, resume. “Eu sou bastante intuitiva”, reconhece a empresária e professora de marketing de moda Helena Augusta, 34 anos. Para tirar a habilitação de motorista, 15 anos atrás, Helena penou para aprender a trocar de marcha com a mão direita. Hoje, tem dificuldade em usar certas pás de bolo e facas de peixe que, segundo ela, só podem ter sido inventadas por destros. Recentemente, Helena reformou a casa e teve o cuidado de deixar bastante espaço entre a pia do banheiro e a parede da esquerda, procedimento necessário para não machucar o cotovelo ao escovar os dentes. “Desde criança, o canhoto é induzido a se virar em ambientes hostis. Acho que essa capacidade de adaptação se transforma em ponto positivo na vida profissional”, diz.

Filhos de pais canhotos têm 40% de probabilidade de herdar esta característica, enquanto menos de 5% dos filhos de pais destros são canhotos. No mundo, uma em cada dez pessoas usa preferencialmente a mão esquerda. Alguns, por imposição social ou facilidade de adaptação, aprenderam a usar também a mão direita e, por isso, são ambidestras, como Leonardo da Vinci. Há ainda aqueles que usam uma ou outra mão dependendo da função. Não é raro encontrar canhotos que tocam guitarra ou usam o mouse como destros, provavelmente por terem se acostumado aos objetos “tradicionais” antes de conhecer as versões modificadas. “Eu escrevo e jogo futebol com o lado esquerdo, mas só consigo arremessar a bola de basquete com a mão direita”, conta o publicitário Marcelo Conde, 28 anos. “Como sou melhor no futebol e na escrita do que no basquete, prefiro dizer que sou canhoto”, brinca. Quando Marcelo era criança, o pediatra pediu que ele fosse até a porta e olhasse pela fechadura. O garoto escolheu o olho esquerdo. Hoje, Marcelo é o único canhoto dentre os sete redatores do escritório paulistano da agência W/Brasil. “Só me falta avisar os diretores sobre a pesquisa para pedir os 26% de aumento”, arrisca, bem-humorado. Pelo visto, agora vai ter pai amarrando a mão direita do filho para ajudá-lo a se tornar canhoto. O salário compensa.

http://www.zaz.com.br/istoe/1922/comportamento/1922_revanche_dos_canhotos.htm

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Observando os desenhos de mãos, feitos pelos homens das cavernas, notou-se que a grande maioria das mãos desenhadas eram a esquerda, o que leva à conclusão que foram desenhadas pela mão direita.  Mesmo nessa época já havia  uma tendência maior para as pessoas serem destras em vez de canhotas. Nos animais, a porcentagem de canhotos e destros é igual.

De acordo com os estudos citados por Springer e Deutsch, os pais, sendo ambos destros, tendem a gerar 2% de filhos canhotos; entre os pais canhotos e destros 17% dos filhos são canhotos e quando os pais são todos dois canhotos a chance dos filhos serem igualmente canhotos é de 46%. Na população, de um modo geral, 10% são canhotos.  No caso dos gêmeos essa porcentagem dobra: 20% deles são canhotos e têm maior incidência de problemas neurológicos, talvez devido à situação de desconforto causada pelo pequeno espaço no útero.

Estudos recentes sugerem uma interessante correlação entre lateralidade e sistema imunológico.  Os doutores Norman Geschwind e Albert Galaburda, em suas pesquisas, chegaram à conclusão que, entre os canhotos, há um maior índice de certos problemas imunológicos. Em cinco dentre oito doenças imunológicas, o número de canhotos era bem maior do que o da população em geral.   Eles supõem que o fato seja devido à presença de testosterona no desenvolvimento fetal que diminuiria o aprimoramento do hemisfério esquerdo, favorecendo o desenvolvimento do hemisfério direito.  Como a testosterona atinge fetos de ambos os sexos, tendo uma menor atuação no feto feminino, isso explicaria a maior incidência de canhotos e deficientes de linguagem e cognição na população masculina.

Na maioria dos canhotos os hemisférios cerebrais funcionam da mesma forma que os das pessoas que preferem o uso da mão direita. Somente 4% dos canhotos têm as funções dos lobos cerebrais invertidas e menos de 1% dos destros têm as posições do criar e do recordar invertidas.

Existem pessoas que, ao escreverem, colocam a mão numa posição invertida, com o polegar voltado para baixo.  Nesses indivíduos a função da fala está no hemisfério do lado da mão que escreve.  Se é canhoto a fala está no lado esquerdo;  se é destro, a fala está no lado direito do cérebro.  Isto facilita, de certa forma, a identificação do hemisfério que rege os mecanismos da linguagem, assim como qual deles está dirigindo o aspecto criativo.

São poucos os canhotos que escrevem com postura normal. Springer e Deutsch, analisando este assunto, dizem o seguinte:

 “Em um estudo medindo a quantidade de atividade alfa em cada hemisfério, canhotos com postura normal mostraram mais envolvimento de áreas visuais do hemisfério direito durante tarefas de leitura e escrita do que os invertidos.  Não foram encontradas diferenças quando os indivíduos eram solicitados a falar ou escutar material verbal.”

É interessante essa informação, pois leva a crer que os canhotos que escrevem numa posição normal utilizam os dois hemisférios para atividades de linguagem, o que lhes dá maior agilidade mental e melhor aproveitamento de suas faculdades. Jerre Levy notou que muitos canhotos tinham habilidade linguística nos dois hemisférios, levando-a a pensar que as funções espaço-visuais eram menos desenvolvidas pelo fato do hemisfério direito estar com determinada área ocupada pela habilidade linguística.  Essa hipótese foi comprovada através de experiências.Alguns pesquisadores chegaram a pensar que a função linguística, sendo distribuída mais bilateralmente nos canhotos, os dotavam de habilidades superiores, tornando-os mais criativos.

É certo, porém, que um maior e mais eqüitativo aproveitamento das funções dos dois hemisférios, sejam entre canhotos ou destros, leva o indivíduo a ser mais imaginativo, mais capaz de resolver questões difíceis do seu dia-a-dia, a perceber e compreender o que o cerca, além de desenvolver habilidades e potencialidades que estão latentes no ser humano. Algumas pessoas que desejam aprender a desenhar, pensam que, pelo fato de utilizarem a mão esquerda vão ser capazes de desenhar bem.  Aprender a desenhar é aprender a ver e a criar.  Essas condições não se desenvolvem mudando de mão e sim desenvolvendo características próprias. Existem excelentes pintores que trabalham com os pés, com a boca e com as duas mãos.  Aprendendo a ver, a perceber traços e formas, consegue-se desenhar bem.

http://www.cerebromente.org.br/n15/mente/lateralidade.html

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