Já considerado um clássico no estudo das potencialidades cerebrais. Em uma edição atualizada, os autores apresentam as descobertas básicas na área da assimetria cerebral, procurando separar os fatos comprovados daquilo que é mera especulação. Escrito para um público amplo, apresenta conclusões científicas de forma clara para o leigo, sem comprometer a precisão e a complexidade dos tópicos analisados.
Cérebro esquerdo, cérebro direito – Sally P. Springer & Georg Deutsch
Trechos do livro que falam sobre nós, os canhotos:
[…]De que modo a organização do cérebro dos canhotos se diferencia da dos destros? Tanto os estudos clínicos como os comportamentais têm ajudado a responder essa questão. No capítulo 1, observamos que o teste com sódio amobarbital mostrou que mais de 95% dos destros têm a fala localizada no hemisfério esquerdo, e que 70% dos canhotos apresentam o mesmo padrão. A maioria dos 30% restantes evidencia representação bilateral da fala. A partir desta configuração, poder-se-ia concluir que a maioria dos canhotos é exatamente como os destros.
Outros dados clínicos, entretanto, sugerem que o quadro é mais complexo. Vários estudos relataram que o prognóstico de recuperação da afasia após um derrame é muito melhor em canhotos do que em destros. Muitos pesquisadores acreditam que a recuperação de uma lesão maciça no hemisfério da fala é uma função da extensão em que o hemisfério não danificado pode assumir o comando.[…]
[…]A organização do cérebro dos canhotos parece ser mais complexa do que alguém poderia esperar a partir dos dados obtidos com o sódio amobarbital. Outro trabalho clínico sugeriu que parte da variação entre canhotos pode ser explicada determinando-se se um determinado canhoto tem parentes de primeiro grau (pais, irmãos ou filhos) canhotos. Os canhotos com histórico de canhotos na família (canhotos na família mais próxima), apresentavam frequências similares de distúrbios de linguagem após lesão no lado esquerdo ou no lado direito do cérebro. Nos canhotos sem canhotos na família, os distúrbios da linguagem eram quase inexistentes após a lesão no hemisfério direito. Esta diferença sugere que há pelo menos duas espécies de canhotos e que os padrões de organização do cérebro dos dois grupos são diferentes.
Os estudos com pessoas normais têm considerado o efeito da ocorrência de canhotos na família na realização dos testes de lateralidade. Vários estudos fornecem base para a idéia de que os canhotos com parentes canhotos são diferentes daqueles que não os têm. Infelizmente, as descobertas quanto à natureza de tal diferença não são consistentes.
As evidências que apontam para a existência de diferenças na organização do cérebro entre pessoas com e sem histórico familiar de canhotos, têm sido admitidas por alguns como um sinal do comportamento genético na dominância manual. A mesma relação, contudo, pode ser vista também como apoio para um determinante ambiental da dominância manual.[…]
[…]Jerre Levy e Mary Lou Reid identificaram outra variável – a posição da mão – que, segundo acreditam, poderia ajudar a classificar os canhotos em diferentes grupos, com base na organização do cérebro. Alguns canhotos escrevem numa posição invertida ou curvada, segurando a caneta ou o lápis acima da linha da escrita. Os outros canhotos, assim como os destros, seguram seus instrumentos abaixo da linha da escrita.
Levy e Reid afirmam que a posição invertida da mão significa que o hemisfério da fala está do mesmo lado da mão preferida. Assim, a fala de um canhoto que inverte a mão seria controlada pelo hemisfério esquerdo. A fala de um destro que inverte a mão (esses indivíduos são raros), seria controlada pelo hemisfério direito. A fala de pessoas que não invertem a mão ao escrever seria controlada pelo hemisfério oposto à mão preferida. Seus pontos de vista conflitam com a sabedoria convencional, que sugere que a posição da mão é devida unicamente ao treino.[…]
O livro, apesar do tema sobre o qual trata ser bastante complexo, expõe as idéias de forma bastante simples e fácil de entender, mesmo por leigos no assunto.