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Archive for setembro \29\+00:00 2008

HIPÓTESE

E se Deus é canhoto
e criou com a mão esquerda?
Isso explica, talvez, as coisas deste mundo.

Carlos Drummond de Andrade

Segundo o Sefer Yetzirá(livro sagrado do judaísmo), cada mês do ano judaico tem uma letra do alfabeto hebraico, um signo do zodíaco, uma das doze tribos de Israel, um sentido e um membro do corpo que corresponde a ele.Tishrei é o sétimo dos doze meses do calendário judaico.Nele, ” Os Dez Dias de Arrependimento” correspondem à “Sua mão esquerda está sob minha cabeça”, os seis primeiros dias de “Sucot” correspondem a “Sua mão direita me abraça”. No judaísmo, segue-se o princípio geral de que “direita” é sempre mais espiritual que “esquerda”.

A letra yud é a primeira letra do tetragrama, o Nome essencial de D’us Havayah, o Nome de misericórdia. É também a letra final do Nome Adnut, o Nome que encerra o Nome Havayah para revelar e expressá-lo ao mundo. Assim, o yud é o início (da essência da Divina misericórdia, Havayah) e o yud é o fim (da manifestação da Divina misericórdia, Adnut).A palavra yud significa “mão”. Os sábios do judaísmo interpretaram assim um versículo que se refere ao yud e às mãos: “Até Minha mão fundou a terra, e Minha mão direita desenvolveu os céus” – que Deus estendeu Sua mão direita para criar os céus e estendeu Sua mão esquerda para criar a terra.

A mão direita é o ponto de início; a mão esquerda é o ponto do final.No versículo acima citado, a mão esquerda (à qual se refere como “Minha mão” sem qualquer designação definida de esquerda ou direita) aparece antes da mão direita. Isso combina com a opinião de Hillel de que “a terra precedeu [os céus].” A terra representa a consumação da Criação – “o fim da ação vem primeiro no pensamento”.O yud de Elul é, especificamente, a mão esquerda, o controlador do sentido do mês, o sentido da ação e retificação. Este é o ponto final da Criação atingindo seu supremo objetivo e fim, o yud de Adnut refletindo-se perfeitamente na realidade criada, o yud de Havayah.

Deus estendeu Sua mão esquerda para criar a terra (e, como citado acima: “Deus com sabedoria fundou a terra” [Mishlê 3:19]). A mão esquerda é a mão do coração, mas os canhotos não são vistos com bons olhos (destros) no mundo.

O mundo é destro, isto é, a laterização do mundo é direita, nos objetos e portanto nos projetos dos objetos e, pior – e é aqui onde reside o problema – nas idéias. As idéias ocorrem no cérebro, então o que poderia ocorrer de diferente no cérebro dos canhotos a ponto de preferirem a mão esquerda á direita?

As diferenças funcionais conhecidas estão na representação das sensações e dos movimentos das mãos, como era de se esperar. No córtex motor, a região do cérebro que dá a ordem de se movimentar, há mais células para cuidar dos movimentos da mão direita nos destros, e da mão esquerda nos canhotos – o que provavelmente garante movimentos mais precisos na mão preferida de cada um. No córtex somatossensorial dos destros, a região que recebe os sinais da mão direita é maior do que a esquerda. Mas apenas na metade dos canhotos a representação da mão esquerda é maior do que a da direita, o que ajuda a explicar por que os canhotos usam melhor a mão direita do que os destros usam a esquerda.

Segundo o judaísmo e a ciência,enfim, Drummond estava certo quando escreveu o poema… no mundo nada parece direito, tudo parece sinistro.

http://virusdamemoria.blogspot.com/2006/10/sobre-mo-esquerda-do-universo.html

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O lado esquerdo da vida, por Fábio Henrique Peixoto

Achei muito engraçado como o assunto tem me perseguido durante esse tempo.
Ultimamente uma variedade de pessoas me aborda sobre esta tema, até então nada polêmico:
‘O lado esquerdo da vida’
Imagingo o que vocÊ deva pensar do título; mas não há nada demais, apenas abordo a questão do ‘ser canhoto’, mas antes irei informar algumas coisinhas de minha curta vida.

Quando eu era pequenininho (ainda morando em Aracaju, com meu pai e tudo a que tinha direito) não sei como nem porquê, não era aceitável ser canhoto!! (chega a ser engraçado), isso mesmo: não aceitava-se ser canhoto.
Então minha querida professora e professoras forçaram-me a escrever com a mão direita, ser destro mesmo que minha natureza não tivesse determinado o mesmo.
Quando conto essa história, lembro-me de uma professora ( Graça, que saudades de suas aulas ) que tive na 5ª série, no colégio de Santa Terezinha, já aqui em Maceió. Ela também havia sofrido a mesma imposição e por isso tinha letra feia e escrevia rápido (já que teve de escrever assim enquanto a professora não olhava, alternando as mãos sempre, mas eu não tenha letra feia hein, apesar de escrever rápido)
Não culpo ninguém, talvez falta de informação do colégio (que aliás amo por demais e nunca esqueço), falta de cobrança ou de atenção dos pais… erro do antigo sistema… etc
Ao relembrar estes fatos, vem a mim também o encorajamento (ah! a bendita coragem) que minha tia me deu e fiz pouco caso.
Por ela, eu poderia escrever com as duas mãos.
A que me foi dado o direito por natureza e a que me foi imposta quando pequeno!!
Fiz essa montagem para que quem não me conheça ou quem não tenha reparado como escrevo (geralmenta a forma chama a atenção das pessoas)
posso ao menos ter uma noção da diferença.
Acontece que ( detalhe muito engraçado) Paulo, meu irmão do meio é canhoto e Renato escreve com a mão direita: mas com o mesmo
jeito do irmão aqui!!! Quem entende???

Ah, Fábio pera aí… toda essa confusão e vocÊ fazer eu perder meu tempo… só para contar tudo isso!
– na verdade, sei onde quero chegar: e estou quase lá.

Fiz todo esse rodeio porque saiu uma matéria muito interessante sobre o mesmo assunto no Estado de Minas (jornal local do estado)
A reportagem trata de como antigamente os canhotos foram taxados: chegaram a ser reprimidos, condenados a ficar com a mão esquerda amarrada até se acostumarem a usar a direita.
Hoje nós… (rs) achamos graças das superstições morais e religiosas que nos acompanharam ao longo da história.
“Conversar com jovens canhotos mostra que eles até se divertem com a habilidade de ver o mundo invertido, do lado contrário ao que o cérebro considera natural” Cita o jornal.
Na verdade, a gente se adapta tranquilamente (nem sempre) a essa realidade espelhada, que se apresenta ao avesso.
Eu mesmo, rio das hitórias de meus avós, que como eu foram obrigados a fingir que eram destros para sobreviver na escola.
Pior…em profissões da época, como a de alfaiate, que apesar das dicifuldades, eram forçados a cortar o tecido com a mão direita.

Fala sério né gente.. a discriminação começa na própria língua!!!
EM PORTUGUES MESMO, canhoto tem sentido de inábil, desajeitado enquanto destro é aquele ágil, dotado de destreza, direito, correto…
E quanto a etiqueta???? Cumprimenta-se com a mão direita!! À mesa, cortamos o alimento também com a mão direita.
E o que dizer da bíblia??? Jesus, segundo ela, senta ao lado direito de Deus Pai. ( os canhotos, tem que fazer o sinal da cruz com a mão direita)

O estudo fala ainda que não se sabe porque as pessoas nascem canhotas, a resposta pode estar nos dois hemisférios do cérebro, mas não há nada concreto ainda. Ainda assim, na Irlanda, especula-se que os fetos tendem a preferir o lado do corpo que está se desenvolvendo mais rápido e que seus movimentos influenciam na evolução do cérebro.

http://www.fhpm.globolog.com.br/archive_2006_05_13_6.html

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Vida de canhoto

Se você é destro, faça um teste: tente abrir uma lata ou trocar a marcha do carro com a mão esquerda. A conclusão é simples: a maioria dos produtos não é planejada para canhotos. Aos poucos, a indústria começa a se preocupar com eles.

Esta reportagem foi sugerida por um telespectador.

Se você nunca teve problemas para manusear uma tesoura, provavelmente você é destro – faz quase tudo com a mão direita, como 90% da população.
Já há uma variedade grande de produtos para os 10% de canhotos, como tesouras com encaixe invertido e até faca de sushiman com o fio do lado esquerdo. Mas ainda falta muita coisa; um coronel da Polícia Militar do Paraná diz que sente falta de mouse especial pra canhotos.
A ferramenta de trabalho mais associada a policiais também só existe para destros: as armas – pelo menos as fabricadas no Brasil – têm sempre teclas e botões para o lado de dentro, presumindo que quem vai utilizá-la é alguém que usa a mão direita. “O canhoto tem mais dificuldade”, admite o instrutor de tiro Antônio Custódio dos Santos.
Há uma lista enorme de improvisos também no mundo artístico: Paul McCartney, Jimi Hendrix e o nosso Edgar Scandurra, do Ira!, são todos canhotos que tocam guitarra de destro de ponta-cabeça. Eles aprenderam assim e preferiram seguir com a técnica mesmo depois que a indústria começou a fabricar alguns instrumentos especialmente para canhotos.
O baixista curitibano Dom Piccoly explica o porquê da preferência. “Você chega numa loja e escolhe o melhor instrumento; mas quando você pede um para canhoto, não existe. Essa é uma dificuldade: ter produtos diversificados pra poder escolher. Normalmente, você tem que levar o que está na loja”, conta.
Dom Piccoly acabou mandando fazer um baixo sob encomenda, e junto com outros músicos canhotos formou a banda “Esquerda Volver”.
O baterista Ale Cirino também passou aperto. “É difícil começar, porque você não consegue encontrar professor pra ensinar. No conservatório, era uma sala com vários alunos e eu ficava de frente para os outros, pra fazer como se fosse um espelho; se eu ficasse do lado, atrapalhava quem estava tocando”, lembra.
Ter que passar a vida se adaptando ao mundo dos destros tem suas vantagens, segundo pesquisas médicas recentes. “O destro usa predominantemente o lado esquerdo do cérebro – que é o lado responsável pela leitura, escrita, matemática, raciocínio lógico – e menos o lado direito, que é o responsável pelas artes, pela imagem e pelos sentimentos musicais. Os estudos provaram que o canhoto usa ambos os hemisférios”, explica o neuropediatra Sérgio Antoniuk.
Para os canhotos amantes da bola, há outra vantagem conhecida desde a infância: “É jogar no time de futebol, porque não tinha muito canhoto pra jogar na ponta esquerda! Sendo bom ou sendo ruim, você estava sempre escalado”, conta Dom Piccoly. O baixista – e jogador nas horas vagas – está em boa companhia; é longa a lista de grandes craques canhotos: Maradona, Rivelino, Tostão, Gérson e o canhoteiro Pepe.

http://www.jornallivre.com.br/171652/dificuldades-e-vantagens-do-canhoto.html

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Uma singela homenagem aos meus amigos canhotos, por André Coneglian
Essa é uma longa história; a lateralidade e a importância que tem em minha vida. Escrevi a respeito na Trajetória Escolar, no 2º ano da faculdade, texto monográfico apresentado à professora Drª. Maria do Rosário Longo Mortatti, um encanto de pessoa, pois respira e exala literatura. Vamos a histórias dos destros e canhotos, então:
“Como introdução, uma necessária explicação
Escrever sempre foi um imperativo para mim. Escrever sempre: por obrigação, por diversão, copiando, inventando, não importando o quê, nem quando. Escrever!!!
Sou destro por natureza, quando a mão cansava ou doía, pensava: “Pena que não escrevo com a esquerda também”. Não era por falta de tentativa e treino, muito treino. Mas, além da caligrafia horrível, a primeira frase era o suficiente para cansar a mão. Coitada!
Conhecia dois canhotos, o João Roberto e a Daniela que estudaram comigo no Ensino Fundamental. Tinham letras deitadas e escreviam muito rápido, eu ficava admirado com a agilidade da mão esquerda deles. Mas quando eu lhes propunha escrever com a direita – ah! – era o mesmo dilema que o meu. Essa coisa de destro e canhoto me deixava encafifado: “por quê destro?” ou “por quê canhoto?”, “quem determina isso?”, “quem escolhe?”…
Conformei-me com minha condição de destro (afinal, a letra é legível e mais ágil), e coleciono um senhor calo no dedo médio do qual muito me orgulho.
Até que um dia, buscando o significado de uma palavra, passeando pelo dicionário, me deparo com a palavra ambidestro: (Adj. e s.m.) Que, ou quem se utiliza das duas mãos com a mesma habilidade. Eu, automaticamente, associei esta habilidade a apenas uma, desenvolvida pela mão: Escrever!
Afirmei em voz alta: eu quero ser isto!
Acabava de descobrir que não existiam apenas dois tipos de pessoas: as que escreviam com a mão direita, portanto, as chamadas destras, e as que escreviam com a mão esquerda, as canhotas, mas havia um sinônimo que designava uma pessoa completa, que escrevia com as duas mãos com a mesma habilidade: “ambidestra.”
Puxei na memória o que me ensinaram para ganhar coordenação motora na mão direita, exercícios com montanhas, voltas, retas, letras, todas tracejadas para contorná-las. Papel e caneta na mão, com a destra preparei exercícios deste tipo para a canhota e contornava tudo: abecedário, maiúsculo, minúsculo, letra bastão, letra cursiva, palavras, meu nome e treinava com a esquerda.
A mão continuava a cansar fácil, escrevia devagar, e a letra era muito feia, mas não queria desistir, afinal – pensava – é como se a mão esquerda estivesse entrado na escola naquele momento e, obviamente, não teria a mesma desenvoltura da mão calejada (velha de escola).
Não me considero ambidestro (não foi por falta de tentativa), sou um destro conformado. Muito feliz, na verdade, pois o medo de não poder escrever mais, caso algo trágico acontecesse com minha destra querida, existiu por pouco espaço de tempo.
Mãos à parte, o ato de escrever sempre esteve presente, e apesar de não escrever só na escola, era por causa dela que eu escrevia, e deve ter sido a escola que me fez gostar de escrever (ou seja lá que força me impulsionava, me obrigava a escrever), pelo conjunto da complexidade escolar. E é com muito gosto e prazer que escrevo este trabalho (manuscrito primeiramente, pela mão direita) para explicitar memórias escolares, que ultrapassam paredes de sala de aula e muros da escola. Ao mesmo tempo se torna uma tarefa complexa e difícil: por onde iniciar, o que contar, por que contar isto ou aquilo? Vou confiar em minha memória (mesmo sendo ela seletiva) e conclamar ao bom senso para dar começo, meio e fim à narração da trajetória escolar que me fez o ser complexo que sou hoje, fisiologicamente envelhecendo, historicamente enriquecendo. Com a destra ou com a canhota, não importa qual, para mim, escrever continua sendo um imperativo…”
(Da Pré-Escola ao Curso Superior: Entre o Século XX e XXI, texto apresentado à disciplina Didática II, ministrada pela Profª Dª Maria do Rosário Longo Mortatti, novembro de 2002).
Depois desta data, ao folhar um jornal eis que encontro tal reportagem: “Canhoto enfrenta o ‘ser gauche na vida’”, in: Folha de São Paulo, Sinapse, 27 de agosto de 2002” [link da reportagem logo mais abaixo].
Eu já tinha o jornal, mas não tinha percebido a existência desta reportagem. Chamou-me a atenção para coisas mínimas que nunca havia parado para pensar, como usar a tesoura e o abridor de latas (foto), é uma tarefa difícil pra o canhoto, pois tais instrumento foram feitos apenas para os destros.
Há uma coluna à parte nesta mesma reportagem escrita por Nicolau Sevcenko, professor de História da Cultura da USP, que conta a respeito sobre as dificuldades e conseqüências que enfrentou em toda sua vida por ser canhoto. Por exemplo: “Minha família vem de uma comunidade na Rússia, onde ser canhoto era proibido pela lei e pecado para a Igreja. Por pressão da comunidade, minha mãe amarrava minha mão esquerda nas costas para me forçar a usar a direita” [coluna completa em link abaixo]. No final do ano de 2004, na biblioteca de uma escola, cumprindo meu estágio curricular, descubro em um livro um conto escrito por ninguém mais, ninguém menos que Nicolau Sevcenko. Adivinhem a respeito do que? Pois é! Emprestei o livro, tirei cópia e fiz questão de digita-lo todo para disponibilizar aqui para todos os meus amigos canhotos e obviamente para os destros também (curiosos como eu):
A Lenda do fim dos gigantes e o Surgimento dos Homens
Minha mãe contava esta história quando eu era pequeno. Ela contava sempre que eu ia dormir. Era história do fim dos bogatires, os gigantes da Mãe-Terra, que habitavam o mundo antes dos homens existirem, e de como os homens apareceram depois.
Os bogatires eram muitos e muito poderosos. Cada bogatir tinha um nome e poderes diferentes dos outros. O bogatir chamado Sviagator era a criatura mais forte que já existira e dizia que, se tivesse um ponto por onde pegar, ele ergueria o mundo. O bogatir Volk podia se transformar num búfalo branco ou numa formiga, numa águia de duas cabeças ou num lobo cinzento. Mikula era um bogatir que tinha um arado encantado, com o qual produzia alimento para todos os outros bogatires. Mas o mais maravilhoso era o bogatir cavalo voador, com asas douradas e um chifre de marfim na testa. Ilia-Muromiets tinha um arco e lançava raios fulminantes sobre a Terra.
Os bogatires inventaram tudo o que se conhece: a agricultura, os tecidos, os objetos de metal e tudo o mais que se pode imaginar. Também defendiam a Terra contra os monstros e os espíritos maléficos. Eles eram tão fortes e estavam tão certos da sua missão que, um dia, depois de vencer uma serpente que cuspia fogo, um deles gritou, cheio de glória: ‘Nós somos invencíveis! Ainda que nos atacasse um exército vindo do além, nós o destruiríamos!’.
Nesse mesmo instante, apareceu um homem todo equipado com armas de guerra e avançou sobre aquele bogatir. Com um único golpe ele cortou o homem ao meio, da cabeça até o umbigo. Mas então o homem se reproduziu, transformando-se em dois. O bogatir tornou a golpear os dois homens, mas eles se multiplicaram, e já eram quatro. Mais quatro golpes e os homens viram oito guerreiros, e assim por diante. Logo, logo, os homens eram tantos que aquele bogatir começou a chamar outros bogatires para ajudarem na luta. Eles vieram um por um e, como os homens não paravam de se multiplicar, todos os bogatires do mundo se juntaram na batalha. Após dias de luta, os bogatires viram que era impossível vencer aquela guerra. Então correram para as montanhas e se refugiaram no fundo das cavernas, caindo nos abismos escuros onde se transformaram em pedras.
A partir daí, os homens se tornaram os senhores da Terra e decidiram celebrar sua vitória num largo banquete. Foi então, quando se sentaram à mesa, que eles reparam que metade dos homens comia com a mão direita e a outra metade com a mão esquerda. Isso acontecia porque, quando cada homem era dividido ao meio pela espada de um bogatir, dos dois novos homens que surgiam dele, um era destro e o outro era canhoto.
Como destros e canhotos se acotovelavam no banquete, sentados um ao lado do outro, eles resolveram se dividir em dois grupos, ficando numa mesa só quem usasse a mão direita e, na outra, quem usasse a esquerda. Não demorou para que um grupo começasse a desconfiar que o outro estava reservando as melhores iguarias do banquete para si, e logo os dois lados começaram a discutir e se acusar. Resultado: os canhotos preferiram se retirar e montar um acampamento separado.
Com medo de que os canhotos pudessem se organizar para atacá-los, os destros resolveram tomar a iniciativa e destruí-los primeiro. Então se reuniram e decidiram que no dia seguinte, ao raiar do sol, eles invadiriam o acampamento dos canhotos e os destruiriam. Como podia ser que alguns escapulissem e se refugiassem nas montanhas, voltando para ataca-los depois, completaram seu plano inventando uma armadilha: cobriram todas as bocas das cavernas com grandes espelhos. A idéia era que, quando um canhoto, correndo em busca de refúgio, visse de repente o reflexo da sua própria imagem invertida, ele pensaria que se tratava de um destro e atacaria o espelho, o qual, partindo-se iria precipita-lo nos abismos das cavernas.
Tal como planejado, no dia seguinte os destros atacaram a acampamento e, tomando os canhotos de surpresa, eliminaram tantos quanto puderam. Vários conseguiram fugir e correram para as montanhas, caindo, entretanto, na cilada dos espelhos. Assim, lá no fundo escuro das montanhas, ficaram encerrados os sobreviventes do massacre dos canhotos. Sua existência era toda de medo. Medo de que os bogatires acordassem do seu sono de pedra para se vingarem deles. Medo de que os destros viessem ataca-los na escuridão e extermina-los de uma vez. Fosse porque tivessem muito medo, fosse porque vivessem no escuro, ou ainda porque se sentissem desamparados, os canhotos desenvolveram a imaginação e passaram a viver num mundo de fantasmas e fantasias.
Só muitas e muitas gerações depois é que os descendentes dos canhotos resolveram voltar ao mundo da superfície. A essa altura, os destros tinham se multiplicado tanto e estavam tão divididos entre si – os que governavam e os que trabalhavam, os ricos e os pobres, os agricultores e os artífices -, que já não se preocuparam mais com a presença dos poucos canhotos. Eles os deixaram viver e se integrar no mundo dos destros. Só estranhavam como os canhotos tinham uma vida interior cheia de perturbação, delírios e melancolia. Por isso, passaram a chamá-los de sinistros.
Minha mãe sempre me contava essa historia antes de eu dormir. Mas nem era preciso: eu já sabia de tudo isso quando nasci. Antes mesmo de nascer. Eu sou canhoto.”
Nicolau Sevcenko é escritor e professor de História na Universidade de São Paulo. (In: Vice-versa ao contrário – Histórias Clássicas recontadas por Otávio Frias Filho …[et al]; desenhado por Spacca; organizado por Heloísa Prieto. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1993, p. 11-14). Para maiores detalhes sobre o livro, ver os sites ou procurar no Google: http://www.terra.com.br/criancas/livros4.htm http://www.fae.ufmg.br:8081/Ceale/acao_educacional/res21
Eu amo os canhotos! Considero-os muito inteligentes; alguns, sem falsa modéstia declaram isso abertamente – rsrsrs!!! Coincidentemente ou não, a comunidade surda, com a qual convivo, possui uma incidência muito grande de canhotos.
Externei tal constatação na faculdade para a professora Débora Delibetaro, que me respondeu: “Daria uma excelente pesquisa, André!”. A Pedagogia abriu meus horizontes; para aqueles que me interrogam por que não quero ser professor, de uma classe durante um ano letivo todo pode estar aqui: vou direcionar meus esforços e estudos na área da interpretação em Língua de Sinais e demais assuntos relacionados à Surdez e, também me incursar nas áreas da neurociência. O cérebro é um órgão que me fascina!!!

http://meninodoquarto.blogspot.com/2005/10/uma-singela-homenagem-aos-meus-amigos.html

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